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Mercado financeiro fica mais apreensivo com escalada de conflito no Irâ


A escalada das tensões geopolíticas no Oriente Médio tem provocado apreensão no mercado financeiro global. Agora, com a entrada oficial dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã, na noite de sábado, a tendência é de maior volatilidade a partir desta semana.

Após o bombardeio norte-americano contra as instalações nucleares no Irã, o Parlamento iraniano aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, responsável pelo escoamento de 20% a 30% do petróleo e do gás natural consumidos no mundo. Com isso, a expectativa é de nova escalada nos preços do petróleo, com o barril voltando a ficar acima de US$ 100, além de alta nos juros futuros e no câmbio, de acordo com especialistas. Para eles, tudo vai depender de quanto tempo esse conflito deverá durar. Se for rápido, os impactos serão amenizados, e o Brasil, como também é um produtor de petróleo, pode sentir menos na inflação doméstica. Caso contrário, a tendência é maior incerteza na economia global e pressões inflacionárias mais persistentes.

"As repercussões serão bem sérias. Como o Irã já aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, vamos ter uma alta significativa dos preços do petróleo, os juros subindo. Vai ser um dia difícil", avaliou o economista e consultor André Perfeito. Para ele, o petróleo pode subir entre 20% e 40% rapidamente devido ao bloqueio iminente no Golfo Pérsico. Além disso, o dólar deve disparar na esteira do aumento do ruído global. "Contudo, sugiro mais uma vez cautela, lembremos que o Brasil tem relação positiva com petróleo uma vez que somos grandes produtores", disse.

Na sexta-feira, o barril do petróleo tipo Brent encerrou o dia cotado a US$ 77,27 e, na noite de ontem, subia 2,6% nos mercados asiáticos. Perfeito prevê uma primeira alta no barril do petróleo para o patamar de US$ 92, alta de 20% em relação ao patamar atual. Para ele, se o conflito se alongar, será possível testar o pico do preço do barril em maio de 2022, quando foi negociado a US$ 111, ou seja, 40% de alta em relação aos patamares atuais.

Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, reconheceu também que o mercado estará mais tenso a partir de hoje. "O cenário nos mercados vai ser muito ruim para as bolsas. O petróleo deve subir forte, mas o dólar deve subir pouco. A maior demanda dos investidores internacionais vai ser por ouro, commodities metálicas e títulos da dívida alemã", apostou Velho. Ele ressaltou que, diante da expectativa de fechamento do Estreito de Ormuz, com a entrada dos EUA no conflito, a tendência é de escalada nos preços do petróleo. "Vai ocorrer um ajuste forte no preço do barril diante do cenário de intervenção", afirmou. No entanto, Velho destacou que haverá pouca pressão no dólar devido ao diferencial dos juros, que tem contribuído para o dólar ficar em torno de R$ 5,50 atualmente. Mas, segundo ele, a tendência é de que a divisa norte-americana volte a ficar mais valorizada daqui para frente.

O economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor adjunto da George Washington University, em Washington, também não tem dúvidas de que o petróleo deverá subir, mas ponderou que, para cenários extremos, isso deverá ocorrer "se houver uma resposta muito forte do regime iraniano", o que ele não vê muito provável. Volpon enumera dois cenários possíveis após a escalada desse conflito no Oriente Médio. O primeiro — e mais provável — com o regime iraniano retomando as negociações ao ver que seria o fim entrar em uma guerra contra os EUA e Israel. "Lembrando que o regime não goza de grande popularidade e que há caos administrativo e Donald Trump (presidente dos EUA) ainda quer um acordo. Neste caso, qualquer impacto no petróleo deve ser moderado, até porque o Arábia Saudita pode e deve compensar qualquer queda de produção do Irã", frisou.

Já o segundo cenário — e menos provável — ocorreria se o Irã resolver brigar com os EUA, desencadeando uma guerra aérea. "O grande risco seria alguma tentativa de ataque nos EUA, aí, entraríamos em uma crise mesmo, sem poder avaliar as consequências ainda", disse Volpon.

A cientista política Cristina Pecequilo, professora de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), alertou para o risco de um conflito mais duradouro, que tende a aumentar as condições de instabilidade global. "Também pode gerar impactos negativos internos para Trump, que já enfrenta questionamentos sobre o excesso de intervenção internacional que vem realizando. E prejudica as negociações prévias com outros países da região, à medida que afeta a credibilidade perante outras nações do mundo árabe", avaliou.

Apesar de China e Rússia virem demonstrado apoio político e estratégico ao Irã, ante o apoio dos EUA a Israel, o risco de uma terceira guerra mundial é considerado baixo por analistas internacionais, mas não é descartado. "O termo terceira guerra mundial precisa ser usado com cuidado. É pouco provável que tenhamos uma guerra envolvendo todas as potências mundiais, os conflitos ocorrem em locais-chave dos interesses das potências, mas a probabilidade de um embate direto entre elas é baixa", ponderou Pecequilo.

Embora o Brasil esteja geograficamente distante da zona de conflito, são muitas as preocupações com os possíveis desdobramentos desse conflito geopolítico. O país ainda depende da cotação internacional para a formação dos preços da gasolina e do diesel, e esse movimento pode alimentar a inflação e dificultar o trabalho do Banco Central na condução da política monetária, destacam os especialistas.

Cautela

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, realizada na semana passada, o BC elevou a taxa básica da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano. Foi o sétimo aumento consecutivo, elevando os juros básicos ao nível mais alto desde julho de 2006. No comunicado, o Copom sinalizou que, caso o cenário econômico se confirme, esse aumento pode ser o último do ciclo de alta da Selic iniciado em setembro de 2024. Contudo, diante desse novo cenário global, a autoridade monetária pode ser forçada a adotar uma postura mais cautelosa, adiando cortes na Selic ou, até mesmo, considerando a necessidade de elevações, caso os efeitos inflacionários persistam.

"O Banco Central, mesmo reconhecendo que choques de oferta são, a princípio, transitórios, tende a manter os juros elevados se houver risco de repasse contínuo para os preços administrados e difusão para os núcleos de inflação. Isso se intensifica se houver deterioração nas expectativas inflacionárias ou valorização do dólar por fuga para ativos seguros, o que encarece importações", explicou o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

André Perfeito avaliou que foi bom que o BC tenha aumentado a taxa Selic, na semana passada, para 15% ao ano. "Essa postura mais cautelosa pode ser útil agora", pontuou.

Nogami alertou ainda que o principal canal de impacto desse conflito na inflação, que pode dificultar o trabalho do Banco Central, é o preço internacional do petróleo. "Um aumento no Brent eleva o custo da gasolina, diesel e gás natural importado. Como esses insumos impactam o transporte e a produção, há efeitos secundários sobre os preços de alimentos, fretes, plásticos e fertilizantes, muitos derivados de petróleo e gás. Além disso, pressiona a conta-corrente via aumento do custo de importações energéticas", explicou.

Desde o início do ano, o preço dos combustíveis vinha mostrando uma tendência de queda, o que levou a Petrobras a reajustar o valor da gasolina no início de junho. Segundo o professor do Insper, em caso de uma escalada nas cotações do petróleo, a estatal ainda pode segurar um aumento dos repasses para os consumidores, mas haverá custos. "O governo pode, portanto, segurar repasses por motivos políticos, mas isso pode gerar prejuízos para a empresa ou distorções no mercado, como desabastecimento, aumento da importação privada ou judicialização por concorrentes", acrescentou o acadêmico.

Agronegócio

O Oriente Médio consolidou-se como um dos principais destinos das commodities agrícolas brasileiras. Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes Unidos estão entre os principais compradores de carne bovina, frango, soja e açúcar produzidos no país.

Para o pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV) Leonardo Paz, a escalada do conflito também pode afetar a logística nos portos de entrada, elevar custos de seguro e transporte, além de comprometer a demanda caso haja recessão regional.

"É possível que haja impactos, especialmente em um cenário mais extremo, como o fechamento do Estreito de Ormuz ou a militarização completa da região. Esse tipo de instabilidade dificultaria a logística de exportação brasileira para esses países, que são consumidores médios do Brasil", disse.

Embora esses mercados não estejam entre os 10 maiores compradores do agronegócio nacional, são consumidores relevantes. Portanto, eventuais bloqueios na rota marítima podem comprometer o escoamento de grãos e proteínas, afetando contratos e elevando custos. Além disso, uma eventual radicalização do conflito pode fechar mercados ou criar embargos temporários. O real também pode se depreciar diante do risco global, afetando a competitividade das exportações — o que pode ser bom para o agronegócio, mas pressiona os insumos importados.

Apesar do cenário de alerta, por ora, o agro segue em alta, impulsionado pelo aumento das vendas para a China, em meio às tensões tarifárias com os EUA. "Mas, em um cenário geopolítico mais grave, o Oriente Médio pode se tornar um ponto sensível para as exportações agrícolas brasileiras", avaliou Paz.

Fonte: correiobraziliense